30.5.09







E perco-me a inventar estranhas superfícies...









A primeira tendência do bicho homem, ao primeiro sinal de calor intenso e de sol tremeluzente, é a de se expôr imoderadamente.

Eu, pelo contrário, como qualquer outro bicho, refugio-me na sombra, na espera de que o quente atenue a sua raiva e só depois, em doses muito reduzidas, vou cheirar o verão.
Se, porventura, sou forçada a antecipar essa exposição, a primeira tendência do organismo é a de avermelhar... e suponho que esta não seja a melhor forma de receber um dia bonito.
Contemplar. Apenas contemplar, de dentro, do lado da sombra e dos espaços frescos a encherem-se de reflexos.

25.5.09


Afinada que está a vida...
sim!
Nada o questiona ou o desconstrói.
É limpa essa leitura, é certo!
No tom... alilazado... daquela tarde..., contudo, um acorde soltou-se da pauta, estranhou a composição e eliminou-se.
Naquele perfeito acorde... foi desafinado o canto, roxo, carne... e depois?
Afinada que está a vida...
na imperfeição de um acorde, ela foi tudo.
Depois? Aperfeiçoou-se, por si.

Afinada que está, que é a vida... precisa, contudo, de um desarranjo tonal, de quando em vez, para se rearranjar com sentido!

Demarco, na sombra azulada, aquela distância.
A distância essencial para que respire, entre goles, aquele aroma que o tempo esbate, devagarinho.
A distância crucial, que permite ainda esquecer, lembrando-o mais nitidamente, quando apeteça.
Não há já desgoverno algum.
Disponho da exacta pontuação, neste caso.
E nas reticências, nos exactos intervalos de tempo, resgato-o, rememoro-o, remoo-o, reinvento-o.
Nas reticências, onde tudo se desarruma, lá está...
E vou revive-lo, ao canto, entre o de café e o de lençol lavado...
E uma melodia, de exacta pontuação, conduz a cadência com que o faço, e determina o como e o porquê dessa lembrança, agora!!!

21.5.09


Romper o aveludado manto de cinza e re-nascer!

18.5.09

E a Varicela, temível por desconhecida, afrouxou os seus sintomas e repercussões.

Uma espuma de banho de PH neutro, um tratamento medicamentoso respeitado, um creme (por sinal agradável) azulado para aplicar sobre cada maldita e voilá...

Secas as borbulhecas e as lagrimitas por causa das comixões... de apenas um dia.

Amanhã retorna à base... e lá vêm, de novo, as pequeninas responsabilidades de menina.

Para mim é o bastante... e o que não é, sobeja!
Para mim basta-me o sono molenga de mão dada, com a claridade a fazer estremecer os estores, num domingo sem tempo.

Para mim basta-me ver-te, pela manhã, a ajeitar a patilha e a sorrir-me com esses brancos dentes tão copiosamente esfregados, a agitar a colher na caneca de leite já muito atrasado e a arranhar de pressa os atacadores e a despedires-te com um beijo ruidoso, também ele agitado de curto.

Para mim basta-me o destempero de trabalhador incansável, com as notícias últimas dos jornais que não leste por falta de tempo, e vires depois, com o teu pijama de algodão, repousares no colo as injustiças todas do mundo.

Para mim basta-me... é o bastante.

E a filha, de olhos imensos, rasgados, com o narizito de quem conhece o mundo todo que ainda não viu. E também os seus destemperos, as bruscas alterações no seu humor, e a história antes do boa noite, e a desajeitada caligrafia de quem ainda não descobriu a melhor formar de aparar as minas, e as aplicações ferozes da borracha sobre o temeroso ERRO, e nós dois a acalmarmos a posterior aflição.

Para mim basta-me... é o bastante.

E vir o verão para redescobrirmos as pequeninas poças salgadas, e a luz tremeluzente nelas, que se alaranja devegarinho, ao ritmo de uma corrida de pés descalços, de um banho morno, de um vestido branco, de uma noite com o nariz a espreitar os cheiros de mato por entre a tenda.

Para mim é o bastante... e venha o mundo prometer-me um mundo outro que eu recuso.
Porque me basta... simplesmente... o bastante, e o que resta? Que sobeje, que vá de encontro a quem precise dele, do resto!!!

A casa. Eu, tu, ela nela. A casa... BRANCA... alugada... e nós 3 nela. E os sonhos e Jobim nesta tarde longa. Esses sonhos, teus meus BRANCOS... adiados... e ela, a sonhar os seus ainda ilimitados.

E a casa, paciente, BRANCA, também adiada... que nos recebe elegantemente como convidados de honra. E nos momentos em que não estamos, inventa-se cheia de carácter e recordações de viagens que ainda não fizemos.

E a casa, e nós nela, a reinventar as sensações primeiras, a redobrar o pouco fôlego, a repetir a exaustão bonita que tão bem conhecemos... em casa, na casa, também ela Branca, Alugada, Adiada... a receber-nos agora já mais certos, de anel no dedo, a fazer tremer os episódios da vida para que ela faça, finalmente, O Sentido!!!

Porque sentidos fez já vários, nesta ou noutra casa, com este ou outro rosto, com este ou outro corpo, com estas rugas ou nenhumas, com estes trapos ou muito semelhantes...
e acabou por não fazer qualquer sentido... senão agora... e nesta casa tanto e tão pouco nossa, com as nossas poucas aquisições , tão mimadas, quotidianamente... e o tempo, a cirandar, a prometer, a sorrir-nos os delírios que um dia concretizaremos, juntos... que eu sei!!!

Chico re-significa os termos como quem tricota meias de vidro ou crocheta algodões já bambos...
e nós respira-mo-lo, o novo significado, pela primeira última vez, derradeiro...
e choramos dores não nossas com a pujança da dor que nos doeu um dia!


Buarque, Veloso, Nascimento, Jobim, ... Regina, Bethânia, ...
e o alfabeto mastiga-nos as sensações e afia-nos os sentidos com uma mestria irrecusável!

12.5.09

Pois é...
Falei-vos do tal dinheirito tão convenientemente recuperado, não?
Ora... no mesmíssimo dia conseguiu, habilmente, fazer-se útil... o que nada tem de conveniente, mas prontos!
A parcela maior ficou na farmácia em 3 reméditos apenas... isto porquê?
Porque chegou a tal... a comichosa... irritante... VARICELA!!! BUÁaaa!!!

11.5.09

Posto isto... e depois de suar de tanto nervosismo... percorro feliz as ruas da cidade e venho para casa com a estranha sensação de que tal não era suposto ter acontecido e que mais tarde ou mais cedo... acordo.
Mas julgo que não... porque ela está cá e a olhar para mim... como quem diz... só tu, de facto, para me fazeres tal coisa e, com sorte, reaveres-me. Olá, de novo!!!

À pessoa que se deu ao esforço de entregar, intacta, esta carteira... um bem haja!
Já não se fazem pessoas assim!!!

Celebração.
Isto merece um cigarro... com a demora de mais ou menos 10 minutos... até já!!!

Retomando...
Uma normal segunda-feira. Amanhecer. Olhar os olhos estremunhados da princesa. Loiça, Alho picado, Saladas lisa e frisada, Espinafres...tudo no escorredor, Salsicha, Cogumelos laminados, Ovo estrelado, Milho, Arroz...
Func. da Cabo à porta, novo equipamento que permite suspender o tempo televisivo, ... bom dia e obrigado.
Correio... e é aqui que começa a expantação... uma notificação da PJ... qualquer coisa sobre uns documentos.
A princesa está já na escola. Esperam-se as duas (14:00h) com café. Expectante, expectante, expectante!!!
Eu e o papel na mão. Eu e o papel muito agarrado ao peito. Eu a vislumbrar, na memória, os tempos idos da carteira que houvera perdido (pensara eu que tinha sido roubada!).
Foi há mais de um ano, acredite-se ou não.
À porta. Mais gente à porta. É a primeira vez que entro numa coisa destas. O olhar fez-se semelhante ao de quem acabou de fazer uma grandessíssima asneira, sem motivo nenhum.
Um corredor, escadas, novo corredor.
Uma mesa repleta de papéis e a minha carteira nela. A Minha Carteira!!! UAU!!!
Falavam-me... e eu ouvia apenas um murmúrio... vindo de dentro da minha carteira... mais nada.
Parecia dizer-me: Como pudeste fazer-me tal coisa. Perder-me. A mim, que te era tão crassa!!!
E eu envergonhada e à espera.
É aguardar que o meu colega acabe de preencher o ofício e... e eu disse sim.
O sistema vai abaixo. Espera-se. Retoma. 20 minutos passados e a carteira muito perto.
Tem sorte porque o dinheiro ainda cá está e... e eu sem palavras.
Assinar um documento e vir com a carteira... depois de mil agradecimentos!!!

Mais de um ano depois e aí vem ela, na mala, comigo...
Quase senti necessidade de a não abanar muito, para que não se lembrasse de desaparecer novamente, desta vez ofendidíssima.
Outro café... e a vislumbrá-la dentro da mala.
Papelecos... bilhetes de cinema, de teatro, apontamentos soltos, a passagem de uma página de um livro e???

35 euros frescos, melhor que legume, a olharem para mim de soslaio, também eles ofendidos.

Uau, Uau, Uau!!!

A isto se pode chamar sorte!!! Nem mais nem menos!!!...

8.5.09

14:30h...desta sexta baça e incolor.
Não apetece muito. Não apetece nada.
As leituras de que agora disponho são imensamente pesadas para um dia destes.
A televisão não oferece aos olhos o que lhes é vontade.
A música...desactualizou-se hoje.
Muito.Nada. Não apetece, de todo!
Nestes dias...se eu fosse só livre arbítrio... esconder-me-ia do mundo, por debaixo dos lençóis, calculando as batidas do tempo, meloso mas tão sarcástico...
e acordaria apenas amanhã, se apetecesse!

7.5.09