18.5.09

Para mim é o bastante... e o que não é, sobeja!
Para mim basta-me o sono molenga de mão dada, com a claridade a fazer estremecer os estores, num domingo sem tempo.

Para mim basta-me ver-te, pela manhã, a ajeitar a patilha e a sorrir-me com esses brancos dentes tão copiosamente esfregados, a agitar a colher na caneca de leite já muito atrasado e a arranhar de pressa os atacadores e a despedires-te com um beijo ruidoso, também ele agitado de curto.

Para mim basta-me o destempero de trabalhador incansável, com as notícias últimas dos jornais que não leste por falta de tempo, e vires depois, com o teu pijama de algodão, repousares no colo as injustiças todas do mundo.

Para mim basta-me... é o bastante.

E a filha, de olhos imensos, rasgados, com o narizito de quem conhece o mundo todo que ainda não viu. E também os seus destemperos, as bruscas alterações no seu humor, e a história antes do boa noite, e a desajeitada caligrafia de quem ainda não descobriu a melhor formar de aparar as minas, e as aplicações ferozes da borracha sobre o temeroso ERRO, e nós dois a acalmarmos a posterior aflição.

Para mim basta-me... é o bastante.

E vir o verão para redescobrirmos as pequeninas poças salgadas, e a luz tremeluzente nelas, que se alaranja devegarinho, ao ritmo de uma corrida de pés descalços, de um banho morno, de um vestido branco, de uma noite com o nariz a espreitar os cheiros de mato por entre a tenda.

Para mim é o bastante... e venha o mundo prometer-me um mundo outro que eu recuso.
Porque me basta... simplesmente... o bastante, e o que resta? Que sobeje, que vá de encontro a quem precise dele, do resto!!!

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